4.7.- Padre Paul Linnartz.

O grande desejo do povo de Forquilhinha de ter na cura de almas um sacerdote conhecedor de sua língua materna passou além das fronteiras do país. Frei Mateus Hoepers vinculado com a vida do povo e Forquilhinha fora por seus superiores enviado Europa a fim de aprimorar os seus estudos em Teologia. Assim freqüentou primeiro a faculdade Lovaina e, mais tarde, de Heidelberg, na Alemanha, onde fez o seu doutorado em Teologia.

Durante a sua estada na Alemanha empreendeu durante as férias diversas excursões pelas terras de seus antepassados, Westfália e Renânia. Numa destas excursões teve o encontro com o Revmo P. Paulo Linnartz, sacerdote idealista e zeloso, Vigário nas proximidades Aix. Na palestra que mantiveram, também transpirou, por parte de Frei Mateus, o grande desejo do povo de seu torrão natal. Pe Paulo tinha, na época do seu encontro com Frei Mateus cerca de 60 anos. Ele, que como jovem sacerdote vira, na zona carbonífera da Renânia, os mineiros poloneses que para lá emigraram em busca ganha pão, mas que na vida espiritual se viram privados de um guia que os compreendesse, teve compaixão deles e fora expressamente à Polônia, aprender a língua dos poloneses. Tão logo conhecedor da língua, voltou à Renânia, dedicando-se à vida religiosa dos mineiros poloneses. O caso relatado por Frei Mateus sobre Forquilhinha o comoveu e prontificou-se a vir para cá inteiramente por sua custa, bem como não exigia recompensa de qualquer espécie seu trabalho durante a sua permanência em Forquilhinha.

Foram trocadas as devidas correspondências, entre o Bispo alemão e sua Ema D. Joaquim Domingues de Oliveira. Quanto tudo coordenado, pe Paulo embarcou para o Brasil, com destino a Forquilhinha. Todos os preparativos aconteciam sem o nosso conhecimento e cooperação. Foi, quando se recebeu carta de Frei Mateus, expondo todas as providências tomadas e a data marcada (1932) em que o Padre Paulo chegaria a, Florianópolis, onde deveríamos recepcioná-lo. E evidente que tal notícia causou grande euforia em Forquilhinha. Coube a Gabriel Arns e Adolfo

Back irem recepcioná-lo em Florianópolis. Fretaram um automóvel, que hoje se denominaria de calhambeque, de propriedade e direção do saudoso Mansueto Costa, de Criciúma, para irem ao encontro do Padre Paulo e trazê-lo.

Em Florianópolis, na chegada do navio Carlos Hoepcke, estavam os nossos emissários no cais do porto. Antes de o navio fazer as costumeiras manobras para o encosto definitivo, avistavam no convés um padre de cabelos completamente brancos: era o Padre Paulo. Como foi de grande alegria, de parte a parte, este primeiro encontro!

No dia seguinte, depois da devida apresentação ao Ex.mo Sr. Arcebispo, sendo-lhe entregue por D. Joaquim a provisão de coadjutor do Vigário de Nova Veneza, com residência em Forquilhinha, foi despachada a bagagem bastante volumosa, no navio Max para Laguna; assim: decorreu todo dia. Só no outro dia iniciaram a viagem de retorno. Rumaram diretamente para Tubarão, onde almoçaram e, depois do almoço, Padre Paulo e Gabriel Arns tomaram o trem para Laguna, onde iam receber a bagagem e despachá-la de trem. Mansueto Costa e Adolfo Back rumaram de automóvel em direção a Criciúma. Pavoroso e desastroso foi este trajeto para os dois, automobilistas: Passando por Treze de Maio, Azambuja, antes da primeira localidade estourou o pneu de uma roda e foi posto o socorro. Em Azambuja, já outro pneu -vazio. Procurou-se restabelecer os pneus furados, mas infelizmente não havia material para os devidos remendos. Emprestaram um pneu de um veículo. Colocado no carro não conseguiram sair da pracinha e, também este estava arreado. Com cola de sapateiro e com um courinho fino se fizeram os

remendos. Rodando até Urussanga, já estava a roda no chão e novamente lá novo remendo para a continuação até Criciúma; mas antes de chegar ao término da viagem vinham só no ferro. Partiram de Tubarão às 13 horas, para chegar no amanhecer do dia seguinte ao ponto de destino.

De Criciúma a Forquilhinha, Adolfo Back seguiu no caminhão de carga de Luca Savi. Em Florianópolis, tiveram do pe Paulo a proibição expressa e severa de não fazerem recepção festiva por ocasião de sua chegada aqui.Os preparativos da festa da recepção já estavam encaminhados e, por mais que Adolfo Back solicitasse, que fosse cumprida a ordem do Padre Paulo, não conseguiu. A resposta que davam, era sempre a mesma:- "Por enquanto o Padre nada manda aqui, só depois de tomar posse." Estava tudo preparado e coordenado e o entusiasmo popular era tal, que nada o sufocava. A recepção transcorreu em alegria indescritível. A euforia transparecia em todos os semblantes, quer dos velhos, quer dos jovens. O regozijo era contagiante e Adolfo Back, que antes refreara a demonstração de contentamento, acabou tomando parte nas ovações do povo.

Padre Paulo tinha então 60 anos, mas físico de asceta, extraordinariamente forte. Montava bem os cavalos mais fogosos que se lhe apresentavam, e era ótimo caçador. A arte de caçar, ele a praticava em sua pátria e só atirava em pássaros voando, nunca num pousado. Como sacerdote era zeloso e piedoso. Logo tratou de coordenar o culto divino, a começar pelos coroinhas, e bem sabem disto os que naquela época o ajudavam à missa. Trouxe com sua bagagem diversos paramentos, cálix, cibório, ostensórios e muitos outros objetos para o culto divino.

Residia na casa de Adolfo Back, e este, algum tempo depois, mudou-se para casa de madeira que possuía no centro da localidade. O padre tinha como cozinheira D. Flora Kammer, que, por ocasião de um banho em companhia de Olívia Arns, morreu tragicamente afogada no rio Mãe Luzia.

Talvez esta morte brusca, que arrebatou ao pe Paulo a cozinheira, que tão bem lhe servia, lhe incutisse a idéia de arranjar religiosas para cá. Primeiro entrou em entendimentos com as Irmãs Ursulinas. Estas, de início, parecia, interessaram-se por este posto isolado, mas certamente receberam informações sobre a situação de Forquilhinha e a resposta negativa veio com a seguinte justificação:- "Em Forquilhinha, tudo ainda é muito primitivo." Padre Paulo, porém, não desanimou; a justificação irônica das Ursulinas pesava sobre o seu espírito idealista, e repetia, meneando a cabeça, as palavras do argumento apresentado. Pretendia trazer para Forquilhinha as irmãs religiosas e outros benefícios. Estas preocupações o levaram à Europa para in loco resolver os assuntos que o preocupavam. Depois de alguns meses, regressava a Forquilhinha, trazendo, devidamente autorizadas pela Cúria, cinco irmãs da Congregação das Pobres Irmãs Escolares de Nossa Senhora, a saber Irmãs Maria Adolfina, Maria Maximília, Maria Taís, Maria Emelina e Maria Inigo, que aqui chegaram em 1935.

Padre Paulo transferiu a morada para a residência de Gabriel Arns, e as Irmãs se alojaram na casa de Adolfo Back.

À custa de suas economias fez todas as viagens de ida e volta à Europa; financiou a reforma e aumento da igreja, a constituição da Sociedade União Colonial, bem como amparou alguns necessitados em situações difíceis. Tantos benefícios abonados a Forquilhinha, como é óbvio, não foram bem vistos por todos. Dizia-se "uma paróquia dentro de outra" e outras coisas mais. As intrigas foram a tal extremo e chegaram à Cúria Metropolitana, que impossibilitaram a permanência de Padre Paulo por mais tempo em Forquilhinha. Muito a contragosto do Padre Paulo e do povo de Forquilhinha, viu-se forçado a voltar para sempre à sua pátria, em princípios de 1936, continuando a corresponder-se com diversos em Forquilhinha até um mês antes de sua morte.

Quem poderá avaliar corretamente os benefícios, o desprendimento, os bons serviços prestados a Forquilhinha pelo Padre Paulo, sem cogitar do mínimo em seu favor? Única e exclusivamente em prol dos seus semelhantes e por amor a Deus, seu Criador, era o objetivo de tudo quanto faz. Deus lhe pague!