1.2.- A Travessia do Atlântico.

1.2.- A Travessia do Atlântico.

O único meio de transporte marítimo era o navio veleiro. Se bem que, com a vinda da corte real de Portugal para o Brasil, a travessia do Atlântico se fizesse com mais freqüência, nem sempre havia praça para os emigrantes. Muitas vezes era preciso aguardar por longo tempo, para conseguir passagem, mesmo para número reduzido de passageiros. Quando tudo corria bem, a viagem sempre levava muitos meses. Pode-se imaginar que as acomodações dos passageiros eram das piores que nós hoje podemos imaginar. Não raro adoeciam em viagem e sem recursos médicos vinham a falecer e eram sepultados no imenso e profundo Atlântico. Que situação para os sobreviventes! Nós conhecemos Pedro Mees, cujos pais vieram a falecer na viagem sobre o Atlântico e que fora criado em casa de nosso bisavô Henrique Westrup. Aliás, eram dois irmãos, que foram aceitos como filhos adotivos pelo bisavô, conforme consta de documento particular, fornecido por Frei Jerônimo Back, que o descobriu e extraiu do livro de Registros Paroquiais de Ituporanga. Transcrevemos literalmente o texto do contrato em língua alemã1 e procuraremos traduzi-lo aproximadamente de acordo com o seu conteúdo; pois, o enredo é confuso, complicado e cheio de falhas. Ei-lo em tradução:-

Contrato de compromisso.

Hoje, dia dezoito de julho de um mil oitocentos e quarenta e sete, na presença de três testemunhas, foi lavrado o seguinte contrato, entre Jacó Weber; agricultor, residente na colônia de Santa Isabel e Henrique Westrup, agricultor, residente em Vagem Grande: Henrique Westrup compromete-se a aceitar os órfãos de pai e mãe, Pedro e Matias Mees, dar-lhes os cuidados paternais, educá-los, ensiná-los, ampará-los em todas as circunstâncias da vida, gratuitamente, sem direito de exigir em qualquer tempo recompensa dos mencionados meninos. Obriga-se ainda a depositar a juros e de zelar, como se fosse de sua propriedade, a importância em dinheiro em mãos do Sr. Jacó Weber. O tutor recebe, hoje a importância de quarenta e seis mil réis, proveniente de arrematação de bens móveis, deixados pelos falecidos pais de Pedro e Matias Mees, bem como as notas de débitos oriundos do mesmo leilão, num total de trinta e três mil réis, ainda não pagos.

Dado e passado no dia, mês e ano supra citado.

Assinatura de mão própria do tutor dos mencionados dois meninos.

Henrique Westrup

Passado na presença das três testemunhas, que São:

Carlos Augusto Stauen

Hannes (João) Reitz

Teodoro Pleioerts.


Anotação: Cópia fiel do original.

(a) PE. Frei Gentil Scheid O.F .M.

Vigário de Salto Grande.

Existe registrada, na mesma paróquia,certidão de casamento de João Mees e Ana Bárbara Monzlinger, com a data de 20 de janeiro de 1842, bem como as certidões de nascimento de Pedro e Matias Mees, filhos de João Mees e Ana Bárbara Monzlinger, nascidos em 17/2/1843 e 11/12/1844, respectivamente. Outrossim, consta, nos registros paroquiais, um documento de licença de imigração de João Mees e Ana Bárbara Monzlinger, datado de 1846. Quanto ao menino Matias Mees, consta que não permaneceu sob a tutela de Henrique Westrup e

que se transferiu a outra família, onde adotou o sobrenome. Há indícios que se trata da família Kirchner. Pedro Mees, no entanto, continuou ligado à família de Henrique Westrup até a sua morte. Gregório Westrup, filho de Henrique Westrup e Pedro Mees consideravam-se como irmãos, embora este se estabelecesse nas imediações de Queçaba, antiga Teresópolis, no Rio do Cedro, enquanto que Gregório Westrup transferiu residência de Vargem Grande para o vale do Capivari em 1886. Apesar de separados por longa distância e de péssimos caminhos, a amizade foi uma constante, tanto assim que o filho de Pedro Mees, de nome Augusto, veio a contrair matrimônio com Vitória Westrup, filha de Gregório, e residem atualmente no lugar Rio do Campo, no vale do Itajaí, e festejarão no dia

04/09/1969 bodas de diamante (60 anos de casados).

Notas.

1.- "Vetbuergs=Contract. Heute den achtzehnten July achtzehnhundert sieben und vierzig wurde im Beisein dreier Zeugen folgender Contract abgeschlossen, nãhmlich" "zwischen Jacob Weber, Ackersmann und Heinrich Westropp, Ackersmann Wohnhaft in der Waschagraade ersterer wohnhaft auf der Coloni St. Isabella, naehmlich Heinrich Westropp Verbuergt sich die Eltenlose Kinder. Peter und Mathias Mees zu verphlegen und Vaeterlich sorge fuer beide Kinder zu tragen und verbuergt sich zugleich fuer alie belaestigungen Verantwrtlich zu sein die Gelder welche Jakob Weber in Haenden hat nebst Steigbriefen und Contracten zu emphangen und selbst wie fuer seine eigenes Vermoegen Sorge dafuer zu tragen. Die Gelder auf zu legen die Kinder zu lehren un in allen Stuecken zu unterrichten und alles unentgeldlich zu tragen. Doch soll den beiden Kindern. Peter und Mathias Mees in spaeteren Jahren keines Wegs eine belaestingung zu fallen nãhmllch" / "fuer bekostigung oder sonstigen Sachen. da slch den Verphlegen darbietet alles / unentgeldlich zu tragen so sei jeder anforderung in spaeteren Jahren an beide besagte Kinder fern.

Der Verpfleger beider Kinder Empfaengt Heute wie oben laut Supcilien baar. Vierzig sechs Mühlreis an baarem Geld von der Versteigerung von den Mobilien der Verstorbenen Eltem Peter und Mathias Mees. Dreissig drei Mihlreis und Verphlegen emphaengt die Rueckstaende der Gelder noch zu haben sind.

Geshehen am Tag Monat und Jahr, wie oben laut.

Eigene Hand unterschrift des Verphlegers beider eben besagter Kinder

Heinrich Westrup

Geshehen in hei seio dreier Zeugen als

Karl August Stauen

Hannes Reitz

Theodor Pleioerts"

"Nach dem Original wortgetreu abgeschrieben von P. Frei Gentil Scheid, OFM. Vigário de Salto Grande"