3.1.- A Primeira Escola.

Os nossos antepassados no Cubatão o no Capivari ficaram abandonados por parte dos governos provincial ou estadual, entregues própria sorte. As estradas, as escolas, tudo, enfim, estava a cargo dos colonos, que resolviam todos os assuntos por seus próprios caprichos. A necessidade da escola talvez já vinha gravada na mentalidade de nossos colonos. Sempre, havendo um grupo de crianças em idade escolar, se cogitava de uma escola; porém, o caso sempre fracassava pelo assunto a que professor ser entregue o ensino.

Quando uma vez por outra apareciam na colônia aventureiros bastante loquazes, eram na opinião de nossos colonos capazes de lecionar na escola desde muito pretendida. Improvisava-se uma salinha e o professor era engajado. Da arte de ensinar e educar um tal professor nada tinha. A brutalidade de uns e o fato de serem beberrões outros faziam com que a escola muito em breve não existisse mais. No entanto, dada a necessidade que havia sempre, tentavam novamente. Assim é que não admira que, naquelas épocas, que felizmente estão bem distantes, o cargo de professor tinha mau conceito entre os moradores da colônia, e professor era sinônimo de vagabundo. Com tantos maus exemplos, de todas as formas se faziam novas experiências.

Um moço de Brusque, Francisco Beli, de conhecimento muito limitado, apenas sabia ler, escrever e fazer contas, o que representa o saber de aluno de terceiro ano hoje, apareceu em São João do Capivari em 1903; freqüentara pequena escola de sua terra. Também foi aproveitado para uma escola que nós freqüentamos. E óbvio que o que não se possui, não se pode dar. Ensinava-nos cantos que, nós, com a nossa infantilidade, cantávamos com o melhor entusiasmo; hoje, porém quando refletimos sobre o texto, nos vem a pergunta: Como foi possível? Tratava-se de canto que chamava a atenção das moças para certos indivíduos perigosos à sua honra. Também, aconteceu que meninos que saíram para os seminários e de lá voltavam com algum conhecimento, eram aproveitados, embora sem curso especializado para ensinar e educar.

Com esses mestres de escola se vinha tendo melhores resultados. Também não era raro o caso em que os próprios pais ensinavam os filhos a ler e escrever, ou então um avô reunia seus netinhos em redor do seu leito para ensinar. Em geral se fazia muito sacrifício para alfabetizar os filhos. Naturalmente ensinava-se a eles a escrever na língua materna; pois, o que não tem, não se pode dar.

A inclinação ao saber e transmiti-lo a outros também se fez presente na recém-fundada colônia de Forquilhinha. Em julho de 1914, o jovem e idealista Jacó Arns, montou o seu cavalo, rumando a Florianópolis em busca de um estabelecimento de ensino que pudesse prepará-lo para o belo, porém espinhoso cargo de professor. Como, no entanto, não existia educandário especializado para a formação de professores, que pudesse deixá-lo apto em curto prazo de tempo, foi-lhe aconselhado ir a Blumenau, onde existia um seminário para a formação de professores, que, em pouco tempo, ficavam habilitados a dirigir uma escola do interior. Este seminário estava sob a direção do inesquecível professor Frei Estanislau Schaette.

Para lá se dirigiu Jacó Arns. O seu talento e amor ao estudo fizeram com que pudesse recapitular todas as matérias ensinadas até então e prosseguir no último semestre de 1914. Nas férias ficou por lá mesmo, aproveitando para mais se aprofundar nos estudos. Matriculou-se no último ano letivo do curso em 1915, conseguindo vencer com distinção.

Em Forquilhinha, soube-se que, no fim do ano de 1915, o professor Jacó Arns se faria presente para assumir a escola. Com apenas nove famílias, a saber João José Back, Gabriel Arns, Felipe Arns, Geraldo Westrup, Adolfo Tiscoski, José Arns, Augusto Arns, Geraldo Back e Bernardo Warmling, quatro ainda sem filhos em idade escolar, puseram mãos à obra da construção da primeira escola em Forquilhinha. As dimensões da escola eram 6 por 7 m, sendo a armação toda de madeira, e os vãos entre os esteios foram fechados com tijolos e rebocados. O serviço de pedreiro foi executado pelo nosso saudoso Pedro João Loch, que já adquirira terras, onde ainda hoje seus filhos as desfrutam.

Terminado o curso de professor provisório no Colégio Santo Antônio de Blumenau, o professor Jacó Arns prestou exames em Florianópolis e requereu para si a Escola Estadual aqui criada. Veio em seguida, acompanhado do Frei Estanislau Schaette, O.F.M. Instalou a primeira escola nos últimos dias de dezembro de 1915. Com os filhos dos novos moradores e dos remanescentes dos antigos, a primeira matrícula da escola recém-criada ascendeu a 35 alunos.

Durante todas as férias de fim de ano, o professor, com o entusiasmo que lhe era peculiar, passou a dar aulas, para no início do ano letivo de 1916 se encontrar com a escola bem encaminhada. Com bom êxito terminou o ano em curso.

Após o Natal de 1916, partiram de Forquilhinha, cavalgando por Braço do Norte, Anitápolis, Teresópolis, hoje Queçaba, Florianópolis, Tijucas, Brusque até Blumenau Jacó Arns e Adolfo Back, o primeiro para aperfeiçoar-se nos estudos, e o outro lá ficar e cursar o seminário de professores do Colégio Santo Antônio de Blumenau. Findas as férias, Adolfo Back lá permaneceu durante o ano de 1917, e o professor Arns retomou à sua escola em Forquilhinha.

Recomeçou o ano letivo de 1917, quando houve campanha política contra a oligarquia de João Fernandes em Araranguá. Como o professor fazia parte da oposição a Fernandes e este venceu as eleições, tratou de vingar-se, exigindo do governo do Estado a transferência do professor para bem longe. O governo do Estado (Vidal Ramos), cedendo ao pedido do velho capanga, removeu o professor Jacó Arns para Três Barras no município de Canoinhas. Todavia, os pais dos alunos, sabendo que o não-atendimento da remoção significava a exoneração do professor, e, satisfeitos com os resultados da escola, não concordaram com a transferência e preferiram ficar privados dos subsídios estaduais para o pagamento do professor. Resolveram criar uma escola particular, contribuindo com mensalidades escolares, e manter o professor.

Na véspera do Natal do mesmo ano, Adolfo Back, junto com mais dois colegas, Adriano Mosimann e Artur Wippel, ambos de pé Brusque, submeteram-se aos exames de professor provisório. Os três candidatos foram aprovados nos exames e nomeados para escolas isoladas. O Wippel foi nomeado para a escola de Guabiruba, sua terra natal; o Mosimann, para a escola de Warnow e Adolfo Back, para a escola de Pomerode, antes município de Blumenau. Os dois primeiros foram ocupar as escolas a eles designadas; o Back, porém, preferiu continuar os estudos e lecionar na escola primária anexa ao Seminário para Professores.

Todos os anos, durante as férias de dezembro e janeiro, retornava à casa paterna, para, no começo das aulas, voltar a Blumenau. Assim, lá permaneceu durante os anos de 1917 a 1920, inclusive. Das viagens de ida e volta, três foram feitas no lombo do cavalo e uma por via marítima, embarcando em Laguna, aportando em Florianópolis, Itajaí para seguir no navio Blumenau no rio Itajaí-Açu acima a Blumenau, e a volta com itinerário inverso.