8.- Pontes sobre o Rio Mãe Luzia.

A comunidade de Forquilhinha, desde o início, se estabeleceu em ambas as margens do rio Mãe Luzia. Como é natural, logo houve um constante intercâmbio entre os moradores de ambas as margens. Embora o rio Mãe Luzia não escoe grande volume de água e nas cachoeiras, em muitos lugares e principalmente nas estiagens, se apresenta com pouca profundidade, a passagem pelo rio é possível sem maior dificuldade. No entanto, a inconstância do nível das águas, motivado pela pouca distância de suas vertentes nas encostas da Serra do Mar, mesmo que aqui não chova, o volume da água aumenta repentinamente, de maneira que o atravessar do rio por entre as águas se toma impossível e permanece nesse estado muitas vezes por diversos dias. O transpor do rio pela canoa, se não impossível, é, porém sempre perigoso devido à alta velocidade das águas pelo grande declive do leito. A alta cordilheira da Serra do Mar, de onde se alimentam os rios Mãe Luzia e São Bento, e o forte declive dos leitos que lhes são peculiares, fazem com que as fortes chuvas caídas na serra se agregam rapidamente e se avolumam, provocando as enchentes, que muitas vezes trazem sérios prejuízos às lavouras ribeirinhas.

Para demonstrar quão significativo é o declive dos terrenos e, por conseguinte também dos leitos dos rios, basta citar que este declive não vai muito além de Maracajá, pois que rio Araranguá não apresenta, ou se apresenta, é pouca declividade, visto estar sujeito a fluxo e refluxo do mar até muito aquém da cidade Araranguá, e o centro da colônia de Forquilhinha se localiza numa altitude de mais de 50 m acima do mar.

Com a fundação da primeira escola Forquilhinha em 1915, também se tomou consideração a dificuldade para os alunos residentes na margem direita do rio Mãe Luzia virem diariamente à escola, nos tempos de cheia. Nos tempos atuais, quando se apresenta um problema desta ordem, como a construção uma ponte para o bem comum, recorre-se ao governo municipal ou estadual com grade alarido para conseguir tal empreendimento; porém, nos tempos idos, isto não acontecia; pois nada adiantava. A divisa era: Ajuda a ti mesmo.

Assim é que se adquiriu, por conta própria, grande quantidade de arame liso para forjar as cordas de arame para a ponte-pênsil. A infra-estrutura era composta de esteios de madeira fincados profundamente em cima dos barrancos do rio, capazes de sustentar a ponte sobre o rio. A superestrutura compunha-se de quatro cordas grossas de arame todas amarradas nos postes e igualmente estiradas e ligadas entre si, duas em cima e duas mais embaixo e sobre estas debaixo se colocavam duas ou três tábuas ao longo, sobre os quais os pedestres passavam. Uma trama do mesmo arame liso em ambos os lados protegia a queda das crianças e mesmo dos adultos.

A primeira ponte pênsil de arame construída nos terrenos, hoje de Dionísio Nuernberg e de Leonardo Steiner, nas margens direita e esquerda do rio respectivamente, no ano de 1916.

Após o movimento escolar, freqüência das cerimônias da igreja e comercial ter se concentrado na sede de Forquilhinha, a mesma ponte foi reedificada defronte à igreja e à casa da escola, aqui permanecendo até 1950.

O desejo e a necessidade de uma ponte capaz de dar livre trânsito para todos os meios de transporte, desde muito se vinha comentando e planejando; no entanto, uma obra de tal vulto não era para pequena comunidade resolver exclusivamente com os seus próprios esforços. Foi-se batendo ininterruptamente nesta tecla até que, em 1949, com o esforço conjugado da Prefeitura de Criciúma, sendo prefeito Aldo Caldas Faraco, com o governo de Estado, sendo o Secretário de Viação e Obras Públicas Leoberto Leal, e mais colaboração de todos os moradores de Forquilhinha veio a concretizar-se um velho sonho de nossos moradores. Quatro longas vigas de ferro conseguidas da Estrada de Ferro D. Teresa Cristina, foram conduzidas com grandes sacrifícios de Criciúma para o local da ponte, no mesmo rumo da Rua João José Back. O comprimento das vigas de ferro dava justamente para a largura do rio. Portanto, tornava-se necessária a construção de pilar no centro do rio, que neste local oferecia dois metros de profundidade.

Fez-se então, guiado pelo engenheiro Jorge Frydberg, a caixa para vedar a entrada da água. Com uma bomba mecânica se extraiu água do interior da caixa. Como, porém, o leito do rio é formado de seixo duro, a caixa não pôde penetrar suficientemente por entre as pedras e, por conseguinte, não vedava a água. E a grande pressão da água no derredor da caixa fazia com que penetrasse muita água para dentro da caixa, a de maneira que a bomba não vencia. Veio assim o estaqueamento, que foi possível mesmo com a água no interior da caixa, porém muito difícil, devida à solidez das pedras. Uma vez pronto o estaqueamento, determinou-se o dia para o enchimento da caixa-forma do pilar. Compareceram mais de cem pessoas com betoneiras em ambas as margens do rio para preparar e carregar o concreto para dentro da caixa. No entanto, não se conseguiu vencer com as bombas a água que penetrava. O trabalho do enchimento da caixa começou: o concreto era e jogado por uma ponte provisória e caía no fundo, dentro da água. Logo se notou que o cimento de concreto era lavado e pelo lado de baixo a água do rio ficava toldada com a cor do cimento. Temendo-se que ficavam somente as pedras e a areia justamente na base do pilar, o pessoal interessado numa boa obra, começara a reclamar, ameaçando paralisar o trabalho, caso não houvesse meios de esgotar a água de dentro da caixa. O engenheiro procurou meios de esgotar mais a água e estancar melhor as partes por onde penetrava a maior parte da água para o

interior da caixa. Então recomeçaram como formigas carregadeiras, a levar o concreto para dentro da caixa. A grande quantidade de massa que caía apressada para dentro da caixa fez com que a água não mais molestasse os trabalhos e de noite o monstro do pilar do centro do rio estava fundido. Muito mais fácil foi o enchimento dos pilares em ambos os lados do rio, pois que a água não mais importunava e mesmo porque as betoneiras ficavam ao lado a derramar grande quantidade de massa para a fundição dos pilares.

Dado tempo suficiente para que o cimento tivesse a devida consistência veio o trabalho, não menos penoso, de levar as vigas de ferro, com seu enorme peso, de pilar a pilar e, uma vez lá postas, pô-las de pé e conservar o equilíbrio até a sua firmação por fortes parafusos embutidos no concreto dos pilares. Este trabalho insano do transporte e colocação das vigas, com falta de outros recursos só foi possível com a habilidade do encarregado do engenheiro construtor da ponte, pessoa esta cujo nome não nos ocorre no momento, que, embora privado de uma mão, sabia organizar e determinar os trabalhos. Quando era preciso forçar a viga para frente, pegava firme e com coragem. As quatro vigas pesadíssimas foram colocadas cada uma em seu lugar, embora com grandes sacrifícios, mas sem incidentes. Colocadas as vigas ao longo da ponte, veio a colocação das vigas transversais da ponte, também de ferro, porém de pouco peso, que, parafusadas nas pontas com as grande vigas, vieram a dar a estas maior estabilidade.

O piso da ponte a seguir foi feito de cimento armado. Estava assim a longamente almejada ponte sobre o rio Mãe Luzia concretizada em outubro de 1950, inaugurada e dada ao livre trânsito para todos os veículos. A ponte pênsil logo ao lado da nova ponte ainda permanecia e vinha dando uma inestimável contribuição à construção da nova ponte, ficando, porém, já que esta dava franco tráfego para veículos e pedestres, em completo abandono e foi cedida à Prefeitura para em outro local ser aproveitada.